Especialistas dizem o que é preciso fazer para a retomada do crescimento e garantem que não há espaço para medidas heterodoxas

 

Fotos: Saulo Ohara
"Manter crédito farto para a população é insustentável ao
longo do tempo", critica o professor Márcio Massaro
 

O tripé econômico é imexível. O Brasil deve continuar apostando no controle da inflação, no câmbio flutuante e no superavit primário. Para reverter o atual processo de desaquecimento econômico e de desindustrialização, o País precisa imediatamente de duas medidas: reformar o Estado e investir em infraestrutura e bens de capital. Essas são as propostas dos economistas e professores universitários londrinenses Azenil Staviski e Márcio Massaro. 

 

Em conversa com a FOLHA, os dois comentaram os desafios da economia brasileira. E disseram que não há espaço para medidas heterodoxas. Além disso, criticaram o governo por deixar a inflação próxima do teto da meta (6,5%) e baixar o superavit primário, que, no ano passado, foi de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 3,8% registrado em 2005. 

 

"Tem de diminuir o peso do governo. Tem de buscar eficiência do Estado", diz Staviski, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC), campus Londrina. Ele ressalta que, desde o regime militar, os governos prometem reforma do Estado, que nunca foi realizada por contrariar interesses da classe política. E cita uma frase dita recentemente pelo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes. "Se não investirmos em procedimentos urgentes para melhorar o Estado brasileiro, em nível da União, estados e municípios, vamos para o caos social." 

 

O governo brasileiro arrecada muito, gasta mal e, em consequência disso, não consegue implementar uma política correta de desenvolvimento econômico. Ele ressalta que a carga tributária cresceu rápido demais no Brasil. "Passou de 15% para 36% do PIB em poucos anos (cerca de R$ 1,7 trilhão). No final dos anos 80, nossa carga era inferior a 20%", lembra. 

 

Já o custeio da máquina pública, nos três níveis de governo, é estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em 21% do PIB, o que representaria R$ 1 trilhão ao ano. 

 

Na opinião do economista, há muito espaço para corte de despesa sem comprometer o serviço oferecido à população. "Por exemplo: nosso Legislativo é um dos mais caros do mundo. Será que precisamos de 513 deputados. Será que o governo precisa de tantos ministérios?", questiona. 

Staviski dá outros exemplos que não vão diretamente de encontro aos interesses da classe política. "A nossa lei de trânsito é avançada. Mas tem exageros. Se você comete uma infração e vai preso, você estará gerando um ônus a mais para a sociedade", declara. Segundo ele, o infrator poderia ser penalizado de outra forma. "Na prisão, além de deixar de trabalhar, esse cidadão vai ocasionar custo adicional para a sociedade. O estrago é ainda maior do que o prejuízo que ele já deu", explica. 

 

Reduzindo gastos, o governo tem condições de investir mais. A taxa geral de investimento brasileira é muito baixa: 18% do PIB, a menor entre os países emergentes. A China, por exemplo, investe mais de 35% do PIB. Márcio Massaro, professor da PUC e da Faculdade Paranaense (Faccar), critica o atual governo por não ter expandido os investimentos, optando pelo estímulo ao consumo como única forma de aquecer a economia. 

 

"A medida (de aumentar crédito e reduzir impostos de eletrodomésticos) para minimizar os efeitos da crise de 2008 foi correta. Era o remédio para ser dado na hora fatal e na dose certa", diz Massaro. Mas, continuar apostando neste modelo, para ele, é uma medida populista. "Manter crédito farto para a população é insustentável ao longo do tempo", declara. 

 

A alternativa saudável, diz ele, é investir. "Eu apostaria todas as minhas fichas em investimentos", diz Massaro. Se fosse da equipe econômica do governo, ele até "ousaria" pensar em uma medida "menos ortodoxa". "Não acharia absurdo se usássemos o dinheiro do superavit primário em investimentos de infraestrutura e em bens de capital para desenvolver nossa indústria", afirma. 

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 14 de julho de 2014; fetraconspar.org.br