Índice aponta para terceiro mês seguido de alta e sugere que consumidor passa a ter mais problemas devido à inflação alta e ao crédito mais caro

 

O número de consumidores inadimplentes registrou alta de 11% em julho ante o mesmo mês do ano passado, segundo o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor, divulgado ontem. O problema é causado pelas elevadas taxas de juros e de inflação, que corroem a oferta de crédito e diminuem o poder de compra, aliadas à menor geração de vagas no mercado de trabalho, que gera insegurança para o consumo. 

 

O economista Luiz Rabi, do Serasa, diz ainda que é preciso ficar atento para a movimentação da inadimplência. Após 11 relatórios em que houve queda no número de devedores ante o mesmo mês do ano anterior, o indicador voltou a ficar positivo em maio (0,3%), junho (3,0%) e julho (11,0%). "As pessoas fizeram um esforço muito grande para regularizar dívidas, que subiram muito de 2009 a 2011 pelo crescimento da oferta de crédito, ficaram inadimplentes e passaram dois anos para sair dessa situação", explica. 

 

Rabi culpa a inflação e diz que a alta dos juros passou a encarecer dívidas em caso de uso do cartão de crédito e do cheque especial, por exemplo. "Mesmo que a pessoa gaste o mesmo valor que há um ano, vai ter de pagar mais pelos juros mais altos das parcelas." 

 

Com as reduções dos primeiros meses do ano, a taxa de inadimplência indica alta de 0,6% de janeiro a julho ante o mesmo período de 2013. Rabi considera que a tendência é de elevação do indicador até o fim do ano, ainda que não arrisque uma projeção. "Será uma preocupação para o segundo semestre." 

 

O presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes, afirma que o poder de compra diminuiu de forma geral, mas tem atingido mais fortemente a população de baixa renda, porque a inflação sobre alimentos tem sido alta. "As classes C e D têm a necessidade de ter o nome limpo para consumir e, quando têm o nome sujo, é por causa da inflação", diz. Ele lembra que a tendência maior é de que o consumidor deixe de quitar prestações de lojas e de cartão de crédito para manter em dia despesas fixas, como aluguel. 

 

Há risco de que cidades mais industrializadas sintam mais o desemprego, ainda que o impacto deva ser percebido no futuro. Antunes diz que, como Londrina não tem esse perfil, a tendência é que o reflexo recaia sobre o número de contratações de temporários no comércio, que deve ser menor no ano. "O único indicador bom que ainda temos é o de emprego, mas já é algo que começa a preocupar", diz, ao completar que a solução ficará para depois das eleições. 

 

Efeito Copa
O número de inadimplentes subiu 4,0% em julho sobre junho, principalmente porque junho teve menor número de transações devido a feriados e paralisações causados pela primeira fase da Copa do Mundo, segundo o Serasa. Isso porque a compensação de cheques, por exemplo, foi menor no mês passado do que no anterior. 

 

Entre junho e julho, houve elevação expressiva nos protestos de dívidas, com 21,2%, e de devolução de cheques sem fundo, com 11,6%. Os dois serviços também dependem da abertura de cartórios e de bancos, respectivamente, o que ajuda a explicar o menor registro de problemas no serviço de proteção ao crédito. 

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 13 de agosto de 2014; http://fetraconspar.org.br