Uma das justificativas é que os eleitores não querem ter seu nome ligado a um partido ou candidato

 

Ferramenta autorizada pela Justiça Eleitoral desde 2010, a captação de recursos para campanhas eleitorais por meio de doações via internet não emplaca no Paraná. Das oito candidaturas para o governo do Estado, apenas o PMDB adotou a prática. A falta de divulgação da possibilidade de doação pela web, o pouco resultado que o recurso traz e o desinteresse do eleitor de ter seu nome ligado a um partido ou candidato são usados como justificativas para deixar o esquema de lado. 

 

A doação pela internet pode ser feita por meio de site específico para o fim. Para executar o procedimento, o doador precisa identificar seu CPF ou CNPJ e o site precisa emitir um recibo. No caso de estorno, desistência ou não comprovação da despesa do cartão, cabe à administradora informar ao beneficiário e à Justiça Eleitoral. Os valores máximos seguem as mesmas regras da doação em dinheiro, cheque ou depósito bancário: 10% dos rendimentos de pessoa física ou 2% do faturamento da pessoa jurídica obtidos no ano anterior à eleição. 

 

Porém, a modalidade, que poderia tornar mais fácil o aumento do caixa de campanha dos partidos nanicos, só foi adotada pelo PT e pelo PSOL na campanha presidencial. Entre os 11 candidatos, somente os sites de campanha de Dilma Rousseff e Luciana Genro dão essa opção. A página eletrônica de Mauro Iasi (PCB) até pede ajuda financeira, mas fornece a conta bancária para depósito. 

 

No Paraná, Roberto Requião (PMDB) é o único que viabiliza em seu site de campanha a possibilidade. O valor começa com R$ 15 e dá escolhas diretas a até R$ 250, mas o contribuinte pode doar montantes diferentes. Mesmo assim, o coordenador jurídico da campanha, Luiz Fernando Delazari, admite que as doações estão devagar. Para ele, o método ainda é novidade e falta divulgação. "O importante mesmo ao pedir a doação é mobilizar o eleitor", justifica. 

 

Outros candidatos estudam a adoção do mesmo método, como o governador Beto Richa (PSDB), que tenta a reeleição. O coordenador de campanha do tucano, Eduardo Sciarra (PSD), diz que ainda não foi implementado porque ainda não há um "clima de campanha". "Não existe o hábito do eleitor e o momento político é desfavorável, devido às manifestações ocorridas no ano passado", avalia. 

 

A equipe de campanha de Gleisi Hoffmann (PT) informou que "existe um estudo" sobre a adoção da ferramenta, mas não há definição pela adoção do mesmo método utilizado pelo partido na corrida presidencial. 

 

Entre os nanicos, o PSOL, de Bernardo Pilotto, não viabilizou a plataforma adotada por Luciana Genro. De acordo com Guilherme Daldin, da coordenação de campanha, a equipe não conseguiu elaborar o mecanismo virtual a tempo e o valor cobrado pela empresa sondada para executar o serviço tornaria o site inviável. "Eles cobrariam R$ 5 mil pela contratação e mais 8% da arrecadação. Nosso orçamento é baixo e só os R$ 5 mil já tornam a plataforma desvantajosa", explica. 

 

O PSOL é um partido que não aceita doação de grandes corporações, como bancos, empreiteiras ou empresas com contratos públicos. O PSTU, de Rodrigo Tomazini, também é contrário aos grandes doadores, o que tornam preciosas as pequenas doações. Entretanto, haveria dúvidas em relação à implementação, segundo a coordenadora de campanha Mariane de Siqueira. 

 

O candidato Geonísio Marinho (PRTB) afirma que a plataforma só não está no ar devido à "deficiência dos partidos menores". "Nossa equipe é pequena e não conseguimos dar conta", justificou. Apesar da importância dos pequenos doadores, ele admite que o eleitor quer evitar "o aborrecimento da identificação" ao se comprometer com a campanha de um candidato. 

 

Ogier Buschi (PRP) e Túlio Bandeira (PTC) não atenderam as ligações, mas seus sites também não têm links para doações. 

 

Desgaste e ligações 

A preocupação com a ligação com uma candidatura, alertada por Marinho, é um dos pontos que ainda seguram as doações por parte dos eleitores e torna a doação por meio da internet ainda inócua, na avaliação do consultor de marketing político Luiz Inácio de Mello. 

 

Além disso, ele vê uma "demonização" das discussões que envolvem dinheiro. "Nos Estados Unidos, a arrecadação é um dado apresentado com orgulho. Dizer que você arrecadou mais que o outro é um sinal que tem mais credibilidade. Mas, no Brasil, é quase pecaminoso. Por isso, a arrecadação não é relevante na condução de uma campanha", avalia. 

 

O consultor afirma já ter adotado o método em campanhas em que atuou em 2010 e em 2012, mas vê com descrédito por considerar um gasto de forças desnecessário por algo que não traz retorno. "Sugeri a plataforma como um diferencial para o candidato. Mas o tempo e o dinheiro dispendido não compensam o retorno, que é muito pequeno", explica.

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 18 de agosto de 2014; fetraconspar.org.br