O pacote de estímulo ao crédito de R$ 25 bilhões anunciado na última semana pelo governo federal não deve trazer muitos efeitos práticos a curto prazo para a economia brasileira na opinião dos economistas entrevistados pela FOLHA. As medidas combinam injeção de dinheiro no sistema bancário, afrouxamento dos controles para a concessão de empréstimos e normas para o financiamento de bens, como veículos. Do pacote anunciado, R$ 10 bilhões virão da redução do volume de dinheiro que os bancos são obrigados a manter depositado no Banco Central - depósito compulsório - e outros R$ 15 bilhões são esperados com o abrandamento de exigências de cautela nos financiamentos.

 

Para o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Carlos Magno Bittencourt, o governo anunciou as medidas com o objetivo de aquecer a economia mas vem aumentando os juros para diminuir o consumo, o que é um contrassenso. "É uma medida eleitoreira para dizer que o governo está preocupado com o desaquecimento da economia", justificou. Ele completou que, no momento, o mercado está em compasso de espera aguardando a eleição. Para ele, o pacote vai fazer com que os bancos tenham mais dinheiro, o que só fortalece o sistema financeiro, mas não deve trazer efeitos para o consumidor, até porque grande parte das famílias está endividada. 

 

Para o professor de economia da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Adriano Amarante, o pacote traria impacto pequeno na economia apenas no final do ano ou só no início de 2015. No entanto, ele não acredita que as medidas tragam algum resultado positivo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. "Os agentes econômicos estão esperando passar a eleição." 

 

Já os representantes dos segmentos que serão atingidos pelo pacote, como automóveis e motos, estão um pouco mais otimistas em relação às novas medidas. Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, as medidas anunciadas pelo governo federal trazem melhoria significativa no regulamento dos créditos ao aprimorar a segurança jurídica e simplificar as operações. Ele acredita que o aumento da liquidez é positivo, pois terá efeitos diretos e indiretos na economia como um todo e, consequentemente, no setor automotivo. 

 

Para o gerente de veículos novos da concessionária Champagnat Veículos da marca Chevrolet, Michel Crozatti, as medidas devem estimular os negócios e trazer efeitos a partir de setembro. Segundo ele, a concessionária registrou queda de 20% nas vendas de janeiro a julho deste ano em relação a 2013. No entanto, não arriscou estimar um percentual de aumento de vendas até o final do ano. Crozatti acredita que a medida deve estimular principalmente as vendas de carros populares, nas quais é utilizado muito o financiamento para a comercialização dos veículos. 

 

O diretor do Grupo Motonda, Marcelo Cavalcante, acredita que a medida possa estimular novos negócios, mas aguarda que as regras estejam mais definidas na prática pelo governo federal. Segundo ele, desde o anúncio do pacote na última quarta-feira, alguns clientes foram à loja dele que comercializa motos para pedir informações. 

 

"A partir de setembro ou outubro, pode começar a ter reflexo nas vendas", declarou. Ele lembrou que o mercado de motos no Brasil teve uma queda de vendas de 5% de janeiro a julho deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, ele destacou que o setor está mais otimista em relação ao futuro do que o segmento de veículos.

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 25 de agosto de 2014; fetraconspar.org.br