Com a desconfiança que paira sobre a Bolsa, a “desidratação” dos preços das commodities e uma nova equipe econômica disposta a apertar juros para controlar a a inflação, analistas recomendam apostar na renda fixa pós-fixada em 2015. O rendimento dessa aplicação, que só é conhecido no momento do vencimento, acompanha indicadores como a taxa básica de juros (Selic) e a inflação. Por isso, ela tende a ter um ano pródigo, já que economistas preveem novas elevações na Selic para combater uma aceleração persistente nos preços.

 

 

Tanto a pesquisa semanal Focus, feita pelo Banco Central (BC) junto ao mercado financeiro, como as estimativas compiladas pela Bloomberg projetam que a Selic terminará o ano em 12,5%. Atualmente, a taxa está em 11,75%. A percepção também fica clara no mercado de juros futuros. Os contratos DI com vencimento em janeiro de 2016, que embutem a expectativa para os juros ao longo do ano que vem, começaram dezembro em 12,46% e subiram a 12,95% no último dia 26.

 

 

Quanto à inflação, a expectativa dos economistas do mercado financeiro, segundo o boletim Focus, é que terminará o ano em 6,54%, acima do teto da meta do governo. Em novembro, a previsão do mercado era que o IPCA terminaria 2015 a 6,30%, dentro da meta.

 

 

— Com esse cenário, será um bom ano para a renda fixa pós-fixada. Não esperamos uma alta enorme dos juros, a Selic pode chegar no máximo a 13%. Mas isso já faz com que títulos prefixados (cujo rendimento é conhecido no momento da aplicação) sejam uma má ideia hoje — explicou Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama.

 

 

Na avaliação de Cláudio Pires, diretor da Mongeral Aegon Investimentos, contribui para um provável aperto de juros no Brasil a queda intensa sofrida pelo petróleo. O preço do barril do tipo Brent caiu 46% em 2014, refletindo a superprodução e a desaceleração da economia global.

 

 

A queda dos preços do petróleo pressionou as moedas de países exportadores do produto, como a Rússia, cujo rublo perdeu metade do valor frente ao dólar no ano passado. Essa desvalorização levou o Kremlin a elevar os juros, em uma única tacada, de 10,5% para 17% ao ano. Além disso, os Estados Unidos devem começar a aumentar sua taxa básica, hoje próxima de zero — movimento que deve se repetir em outros países.

 

 

— Não devemos ter um “galope” como na Rússia, mas o nosso BC deve continuar aumentando os juros porque também sofre com a queda do petróleo e por questões internas, como a inflação elevada —analisou Pires, da Mongeral.

 

 

Para quem quiser aproveitar essa aceleração dos preços, Pires recomenda títulos atrelados à inflação, mas de curto prazo, “para se proteger da vulnerabilidade do cenário”, disse. Como as Notas do Tesouro Nacional série B (NTB-B) com vencimento em 2016, que pagavam, em dezembro, a taxa oficial inflação acrescida de juros de 5,7%.

 

 

ATENÇÃO PARA POSSÍVEL MUDANÇA DE CENÁRIO

 

 

Sandra e Pires citam outros exemplos de aplicações pós-fixadas interessantes. Entre os mais destacados, segundo eles, estão as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Imobiliário (LCI). Elas costumam pagar um percentual acima de 90% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) — que acompanha de perto a evolução da Selic — e são isentas de Imposto de Renda. Investidores devem estar cientes de que elas trazem o risco de falência do banco emissor, mas aplicações de até R$ 250 mil estão cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O valor da aplicação mínima também pode ser um problema, pois costuma ficar acima de R$ 20 mil, embora já haja opções no mercado a partir de R$ 10 mil.

 

 

Outras opções pós-fixadas são os fundos de investimento que levam DI no nome e a Letra Financeira do Tesouro (LFT), que acompanha a Selic.

 

 

Mas os investidores também devem estar atentos a mudanças importantes de cenário, que já estão no radar de analistas.

 

 

— Estamos vendo o BC um pouco mais cauteloso, com o (presidente Alexandre) Tombini advertindo para o fato de que o esforço fiscal pode ajudar no combate à inflação. Se isso se confirmar, talvez não seja um excelente negócio estar pós-fixado — observou João Pedro Brugger, da Leme Investimento.

 

 

Alvaro Bandeira, economista-chefe e sócio da Órama, acredita que “vai haver um momento em 2015 no qual talvez seja interessante mudar da renda pós-fixada para a pré.” Ele prevê mudança na tendência futura dos juros conforme a nova equipe econômica implemente seu arsenal de ajustes. O BC, por exemplo, já disse que busca trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2016.

 

 

— O ideal hoje é ir para os títulos pós-fixados de curto prazo, porque prevemos uma mudança de tendência em pouco tempo. Depois, se isso se confirmar, o ideal é migrar para a renda fixa prefixada, mas no longo prazo — recomenda Bandeira.

 

 

A renda fixa prefixada é ideal quando há perspectiva de queda para os indicadores aos quais a pós-fixada está atrelada (juros e inflação, principalmente). Entre os títulos públicos, são aplicações prefixadas as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F).

 

 

FONTE: O Globo, 05 de janeiro de 2015; fetraconspar.org.br