Pesquisa aponta que preocupação com inflação leva brasileiro a diminuir idas aos pontos de venda e a fazer compras mais planejadas
Um estudo realizado pela Nielsen mostrou que, preocupados com a crise econômica, os brasileiros estão diminuindo as idas aos pontos de venda e reduzindo o tíquete médio a cada compra. Para economizar, os consumidores também estão adotando o hábito de comprar "embalagens econômicas" para itens não perecíveis, e embalagens menores para itens supérfluos, como biscoitos.
As medidas são uma tentativa de reduzir os gastos após um período em que, principalmente a classe C, se viu consumindo mais e adquirindo produtos melhores. "Chegou a um ponto que esta situação ficou insustentável. O que vemos é que o consumidor deu uma equilibrada no orçamento, e sabemos que 2015 vai ser um ano um pouco difícil", afirma Marco Antonio Giorgi, analista de mercado da Nielsen.
Em 2014, a inflação passou a ser a segunda maior preocupação do brasileiro. Enquanto em 2013 a classe C gastava 15% a mais do que ganhava, em 2014, este mesmo índice caiu para 2,9%, diz Giorgi. Porém, o consumidor da classe C, que se acostumou a marcas melhores, não quer "dar um passo para trás" e consumir marcas mais baratas, ressalva o analista. "Vemos que existe uma busca por um consumo mais racional."
Por isso, as idas aos pontos de venda caíram 4,7% em 2014, aponta a pesquisa. Com menos visitas às lojas, o tíquete médio aumentou 5,6%, sobretudo para as classes A e B, mostrando que as compras dos brasileiros ficaram mais planejadas, segundo a Nielsen.
Canais de venda como o atacarejo experimentaram, em 2014, grande crescimento nas vendas (9,7%). De acordo com o analista da Nielsen, os consumidores frequentaram mais o atacarejo para fazer compras mais planejadas e com preços menores. "É um pouco mais parecido com as compras de abastecimento. Mas também vemos, por outro lado, os consumidores em busca de embalagens menores para categorias de indulgência, de consumo impulsivo, como o biscoito."
Wilson Obara, presidente regional da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), confirma que as idas aos pontos de venda têm diminuído. Nos hipermercados, houve retração nas vendas como o apresentado pela Nielsen (-0,7%) em 2014. Em contrapartida, o atacarejo teve crescimento em vendas em função da busca por embalagens econômicas.
Os mercados menores também se beneficiam deste momento econômico, diz Obara. Conforme a pesquisa da Nielsen, os minimercados tiveram crescimento de 6,2% nas vendas, e os supermercados, de 6,5%. "Mas aqueles com mais de 20 caixas (hipermercados) tiveram retração de 0,7% em 2014." Na visão do presidente regional, no ano passado, os consumidores passaram a se dirigir mais às lojas menores, "de vizinhança", para cortar custos de deslocamento.
"Todo empresário está tendo que se reformular, enxugar despesas operacionais para absorver a redução", avalia Obara, sobre a maneira como os super e hipermercados estão lidando com a retração nas vendas. De acordo com ele, este movimento já era esperado.
Fonte: Folha de Londrina, 13 de abril de 2015; fetraconspar.org.br