Presidente da Câmara dos Deputados teria se comprometido a não iniciar processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), iniciou nos últimos dias uma negociação com o Palácio do Planalto e com lideranças do governo na Câmara para tentar salvar seu mandato. Em troca, ele se comprometeria a não dar o pontapé inicial em um processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
As conversas de bastidor giram em torno de dois pontos, principalmente, segundo a reportagem apurou. O primeiro deles é a garantia pelo governo e pelo PT de que não irá prosperar, a ponto de chegar ao plenário da Câmara, o pedido de cassação de Cunha feito pelo PSOL e pela Rede, que começará a tramitar na semana que vem no Conselho de Ética da Casa. O conselho tem 21 integrantes, sendo 9 do bloco comandado pelo PMDB de Cunha. Somados os 7 do bloco liderado pelo PT, chegaria-se a uma ampla maioria, com 16, mais do que suficiente para barrar a investigação contra o presidente da Câmara.
Cunha tem apelado a aliados e ao governo no sentido de que não seja aprovada a cassação no colegiado. Se isso acontecer, o parecer vai ao plenário da Câmara, em votação aberta, o que deixa a situação fora de controle na visão do parlamentar. Para que haja a cassação, é preciso do apoio de pelo menos 257 dos 512 colegas de Cunha. O presidente da Câmara é acusado de integrar o esquema de corrupção da Petrobras, com a suspeita de ter recebido dinheiro de propina em contas secretas dele e de familiares na Suíça.
O segundo ponto das conversas entre governistas e Cunha gira em torno da saída do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), apontado por Cunha como responsável pelos vazamentos de informações sobre as investigações contra ele. Cunha pede que o vice-presidente Michel Temer, cacique do PMDB, assuma o ministério, mas Dilma ainda resiste. O presidente da Câmara almoça ontem com Temer. O vice foi procurado pelo ministro Jaques Wagner (Casa Civil) para ajudar nas conversas com Cunha. Nos encontros com governistas, Cunha também sinalizou a dois ministros do Planalto que queria ser absolvido ou pelo menos ter garantias que a Lava Jato "pegue mais leve" com ele, segundo relatos. Os ministros teriam afirmado que a missão era impossível, que nem petistas foram salvos nessas investigações.
OPOSIÇÃO
Integrantes da oposição dizem que a tentativa de acordo está claramente em curso. Ontem, alguns já demonstraram descrença de que Cunha vá autorizar a tramitação de um pedido de impeachment contra a petista. Na visão deles, o presidente da Câmara tem chance bem maior de salvar o mandato em acordo com o governo do que em acordo com a oposição, com quem estava bem mais alinhado nos últimos meses. A esperança manifestada por alguns é a de que o PT não entregue o que Cunha estaria exigindo. Na terça-feira, por exemplo, líderes petistas conseguiram evitar o apoio institucional da bancada do partido ao pedido de cassação de Cunha, mas mesmo assim 32 dos 62 deputados petistas assinaram individualmente o pedido do PSOL e da Rede. O presidente do PT, Rui Falcão, foi um dos que tentou conter a adesão ao "fora, Cunha" - mesma orientação do ex-presidente Lula. Apesar disso, a base da bancada não deu ouvidos.
Fonte: Folha de Londrina, 15 de outubro de 2015; fetraconspar.org.br