Banco Central enfrenta inflação de 10% e fala em reduzir para 4,5% até o fim de 2016
 

O Banco Central (BC) afirma que vai cortar a inflação praticamente pela metade entre este ano e dezembro de 2016. Atualmente, a inflação ela beira os 10% ao ano. Mas o BC afirma que termina 2016 em 4,5%, o centro da meta que se propôs a cumprir. Apesar do otimismo do BC, analistas de mercado e economistas não se arriscam a afirmar que isso seja possível.

 “O BC não tem uma vida fácil”, diz o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C.Pastore & Associados, a O Estado de S.Paulo. “A taxa de juros que está aí impede que a inflação faça uma escalada sem limites: tanto que estamos vendo uma inflação perto de 10%, mas é provável que vá a 6% no ano que vem”, diz. “Mas não vai a 4,5%, como diz o BC. Esse discurso é inconsistente.” O próprio BC já teria se dado conta e, internamente, estaria estudando como mudar o discurso e o prazo para cumprir a meta.
 

Na avaliação de Pastore e dos demais economistas, o BC não tem muito a fazer neste momento porque sofre os efeitos de uma espécie de círculo vicioso, alimentado muito mais pela política do que pela economia.
 

Nesta semana, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC), se reúne para decidir se eleva a Selic, a taxa básica de juros, hoje em 14,75%. Para deter a inflação, o principal trunfo do banco é elevar os juros. Mas a alta estaria no limite. Ele precisa agora da ajuda do ajuste fiscal - que o governo gaste menos, reduza o volume de dinheiro que injeta na economia. Porém, o ajuste depende da aprovação de uma série de medidas no Congresso. Como governo e Congresso não se entendem, o ajuste empacou.
 

O cenário é delicado. De um lado, a recessão, acompanhada de desemprego e queda da renda, se agrava. As pessoas compram menos e isso naturalmente vai reduzir a inflação. Mas, de outro, o dólar subiu demais e permanece instável, o que pressiona os preços.
 

O mais complicado neste processo é que o BC precisa ser cauteloso sem parecer leniente com a inflação, o que agravaria a situação da economia. “As inflações começam pequenas e depois vão aumentando”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente da instituição e sócio da Tendências Consultoria. “Se eu estivesse no BC seria bastante conservador. Não estou defendendo que o BC saia por aí como um míssil sem direção, elevando os juros. Mas ele não deve se comportar como se a briga com a inflação estivesse perdida. O Banco Central precisa ser o último a jogar a toalha”, afirmou.


 

Fonte: Bem Paraná, 20 de outubro de 2015fetraconspar.org.br