Uma semana após erro do Ipea, inferno astral atinge o Instituto de Geografia e Estatística.

 

Uma semana depois de Rafael Guerreiro Osório, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), pedir demissão do cargo, ontem foi a vez de Márcia Quinstlr, diretora de Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fazer o mesmo. Além dela, também pediu para sair a coordenadora da Escola Nacional de Estatísticas e integrante do conselho diretor do instituto, Denise Britz do Nascimento Silva. 

 

Por motivos diferentes, duas das mais importantes instituições públicas do Brasil entraram em inferno astral. No primeiro caso, um erro grotesco levou à crise que arranhou a imagem do Ipea. O instituto divulgou que, segundo pesquisa, 65,1% dos brasileiros acreditam que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Dias depois, após muita polêmica e indignação no País, o Ipea veio público pedir desculpas e dizer que o número correto era 26%. 


Já, no IBGE, o pivô da crise foi a suspensão trimestral da divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) pelo Conselho Diretor do instituto. A decisão foi tomada nesta semana depois de questionamentos feitos pela senadora, ex-ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata ao governo do Paraná, Gleisi Hoffmann (PT), e pelo senador de Pernambuco, Armando Monteiro (PTB). Ambos criticam a metologia da renda domiciliar, que integra a pesquisa, e que servirá de base para o Fundo de Participações do Estado (FPE). Ou seja, vai ajudar a determinar valores de repasses de verbas da União para os Estados. 

A divulgação da Pnad Contínua está suspensa até 6 de janeiro de 2015. Além das saídas de Márcia Quinstlr e Denise Silva, outros 18 coordenadores de pesquisas se rebelaram e ameaçam deixar as funções. Eles querem que a divulgação seja feita em julho e outubro conforme programado. "Parece que existem outras pessoas dispostas a entregar seus cargos. Estão acontecendo reuniões entre os coordenadores. É uma crise de gestão", disse a servidora Ana Magni, da executiva nacional da Associação de Servidores do IBGE (ASSIBGE). 

Segundo a entidade, a metodologia da Pnad Contínua está correta, não há erros na amostra nem no cálculo da renda domiciliar per capita. Ana reclamou que a decisão de reavaliar a pesquisa foi tomada sem que a equipe técnica fosse consultada sobre a pertinência dos questionamentos feitos pelos senadores. Em carta ao conselho diretor do IBGE, o grupo disse ser "inaceitável" a reprogramação do calendário de divulgação dos resultados da Pnad Contínua. 

A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, reconheceu que foi um "erro" divulgar a decisão primeiro "para o público externo". Mas defendeu a iniciativa. "Foi uma decisão de natureza institucional. Optamos por atender a uma prioridade, que envolve um preceito constitucional (o FPE). Por isso, decidimos parar com as divulgações", disse. Ela alega que, se não rever a metologia antes da divulgação, fica sujeita a sanções e a ações judiciais. 

Até o fechamento desta edição, os coordenadores de pesquisa estavam reunidos com o conselho diretor do instituto. (Com agências) 

 

 

 

Fonte: Folha de Londrina, 14 de abril de 2014; fetraconspar.org.br