Previsão para este ano foi cortada pela metade e passou de 3,8% para 1,6%
Um ano depois de iniciado o ciclo de alta dos juros, a previsão para o crescimento da economia em 2014 foi cortada à metade: passou de 3,8% para 1,6%. De abril do ano passado até agora, o Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) de 7,25% para 11,0% e, mesmo com a atividade econômica mais fraca, a inflação não cedeu, mantendo-se em torno do teto da meta do governo. Economistas divergem sobre o papel do aperto nos juros no esfriamento da atividade, mas concordam que a economia brasileira está num paradoxo: apesar do crescimento mais fraco, a inflação segue pressionada.
Cálculos da LCA Consultores apontam que cada ponto a mais na Selic reduz em 0,5 ponto percentual o crescimento do PIB, embora o efeito dos juros sobre a economia demore a aparecer. Assim, o atual ciclo de alta tiraria 1,9 ponto percentual do crescimento econômico de 2013 e 2014, segundo o economista-chefe da consultoria, Braulio Borges.
"Há outras coisas atrapalhando o crescimento, como o risco de racionamento de energia, a crise na Argentina e a falta de confiança, mas a política monetária tem efeito sim", diz Borges.
Em 12 de abril do ano passado, logo antes do início do ciclo de alta dos juros, a média das projeções do Boletim Focus (pesquisa semanal do BC com analistas de mercado) apontava para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8% em 2014. Pelos cálculos à época, o crescimento de 2013 ficaria em 3,0%.
No entanto, o PIB acabou crescendo 2,3% ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a média das projeções da mais recente edição do Boletim Focus, divulgada na última segunda-feira, aponta para um crescimento de apenas 1,62% em 2014.
Na avaliação do economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, André Guilherme Pereira Perfeito, a deterioração nas expectativas para o PIB deste ano tem efeito no aumento na taxa básica de juros. "O efeito da alta da Selic tem que ser a redução da atividade econômica. Esse é o efeito desejado", diz.
Perfeito destaca ainda que, no início do ciclo de aumento na Selic, ano passado, a previsão de um PIB maior para 2014 também levava em consideração a descrença de alguns economistas na persistência do BC em elevar os juros.
"Os economistas estavam céticos sobre a firmeza do processo de aperto dos juros pelo Banco Central", afirma Perfeito. Uma vez constatada a disposição da autoridade monetária em elevar a taxa, as perspectivas para a atividade econômica no País foram se ajustando para baixo.
Fonte: Folha de Londrina, 26 de maio de 2014;: fetraconspar.org.br